segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Escrevendo diálogos - primeira parte


Você achou que ao escrever seu livro, o diálogo fosse um dos itens mais fáceis de se construir, certo?
Errou feio!
Mesmo para os escritores experientes, desenvolver as falas das personagens num formato de história — e não de roteiro ou dramaturgia — pode ser um verdadeiro desafio, pois não envolve, apenas, a técnica em si, mas sim,  muitos aspectos que são esquecidos durante o processo de escrita, como a voz da personagem, o modo de falar, as emoções...

Se o seu “calcanhar de Aquiles” é o dialogo, como um todo, selecionei algumas dicas que podem ajudá-lo a passar por ele, sem MUITO sofrimento:
1. Leia as falas em voz alta. Melhor ainda: leia as falas para alguém, em voz alta. Você poderá se surpreender com quantas palavras e expressões ridículas usou nos diálogos...
2. Enquanto fizer a leitura, siga de forma estrita a pontuação que usou. Imagine-se falando o texto para alguém que está em frente a você e tente verificar se sua personagem não precisará de uma balão de oxigênio, ao terminar uma jura de amor... Se suas passagens estiverem muito longas, marque-as para que sejam reformuladas ou repontuadas;
3. Preste atenção às introduções e explicações do narrador antesentre e depois de cada diálogo.  Podemos cair na armadilha de escrever algo bem parecido com isso:
Paulo estava com pressa. Jogou os papeis na mesa e falou:
— Ande rápido, arrume suas coisas que estou apressado.
Assim, você deve ter certeza de que seu dialogo não está repetindo a “fala” do narrador e vice-versa;
4. Evite o uso de “(...)mente” nas explicações do narrador, exemplo: displicentemente, apressadamente, velozmente, etc. Elas enfraquecem a narrativa e têm muito espaço, em outros trechos, que não sejam referentes aos diálogos;
5. Por que alguém escreveria isso:
— Muito prazer — ela disse.
O travessão é um indicativo de fala. Não é necessário que você repita isso ao leitor. Use o recurso em diálogos que requeiram explicações cruzadas, como por exemplo, quando existem vários falantes e você anexa o nome deles à explicação:
— Muito prazer — falou Maria.
6. A palavra “e” pode ser sua salvação quando você quer que a personagem fale “e” aja, fisicamente:
Maria disse, gargalhando:
— Muito prazer.
Tente:
— Muito prazer — e gargalhou, mostrando os dentes amarelados.
7. A maior parte de suas personagens falariam, umas às outras, da mesma forma como se conversa cotidianamente. Evite frases complexas e seja direto. Troque “neste momento”, por “agora”; ao invés de “em vista do fato”, tente “porque” e assim por diante;
8. NÃO TRANSCREVA problemas fonoaudiológicos, sotaques ou vícios que são audíveis. É impossível levar a sério um texto que traz trechos como:
— Eu serr alemãm e gostarr muita de comerr frrrutas brasileirrras.
Deixe a explicação para o narrador:
Hans falou pela primeira vez, com um inconfundível sotaque alemão:
— Gosto muito de comer frutas brasileiras.
Nos próximos post, avançaremos nos conceitos básicos relacionados aos diálogos.
Por enquanto, vá tratando do seu texto e falando em voz alta, cada um dos diálogos.

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