A entrevistada deste mês inaugura — de forma muito emocionante para mim — nossa série de conversas mensais, como as que aconteciam no blog anterior.
Começo pelo fim: encontrei com Estrela no mês passado, no show que fez em São Paulo e que eu vi, não sem uma pitada de orgulho, mas com muita, muita alegria no coração, me fez voltar no tempo...Explico: é bastante estranho rever uma pessoa vinte anos depois, principalmente, quando sua última recordação dela é a de um rosto infantil e curioso, com sede de crescer mais rápido do que o tempo costuma prescrever...
A Estrela que revi não me surpreendeu, totalmente: igualzinha àquela de quem eu lembrava, mas em tamanho "Alice grande" do Lewis Carroll; parece que ela achou a garrafa com o rótulo "BEBA-ME", porque eu afirmo e atesto, que com apenas uma década de vida, ela era a mais curiosa, a mais crítica e a mais impaciente de todas as minhas alunas.
Continua assim e agora, fala sobre coisas como as que lerá na entrevista. Mas não pense que esta minha observação diminui todo o seu processo de crescimento profissional e de experiência! Muito pelo contrário: além de manter-se fiel ao que já sabia — mesmo que inconscientemente — ser sua trilha, Estrela amadureceu no sentido bom da coisa. Veja por si mesmo:
MADAME LIVRO: Não dá para começar sem a pergunta “standart”… Quando e como se deu o seu encontro com a poesia?
ESTRELA: Como os meu pais eram poetas eu não tenho como localizar isso no tempo, sei que quando era criança, brincava com jogos de palavras com meus pais e fiz meu primeiro haicai, aos 6 anos:
a casaa lua o solnem sempre só
ML: Sua carreira musical complementa sua atividade poética, ao contrário, ou você vê as duas coisas de forma distinta?
ESTRELA: Elas se alimentam mutuamente, ouço muito que a minha música é poética e que meus poemas são sonoros.
ML: Conte um pouco sobre sua rotina de criação.
ESTRELA: Olha, gostaria de ter uma. Uma daquela mais regradas. É bem caótico na verdade; tem períodos em que produzo muito, tem períodos de seca absoluta, tem outros em que fico criando, mas só pequenas ideias e vou engavetando. Aí, me disciplino, coloco em ordem e termino o que falta.
ML: Você vem de uma família completamente mergulhada na arte, de várias formas. Como é o processo de separar-se disso e criar sua identidade artística, sua marca literária?
ESTRELA: O parodoxal nisso, é que só consegui minha própria linguagem quando assumi de vez a influência deles. Mas não fico pensando muito nisso, nem em fugir da obra deles, nem me aproximar. Eu saio fazendo.
ML: Como você enxerga o momento poético brasileiro?
ESTRELA: É um momento de diversidade louca, estamos revisitando todos os estilos, mas vejo como uma tendência poetas com múltiplos talentos, poeta-designer, poeta-cineasta, poeta-artista plástico e por aí vai. A internet dá possibilidade de vazão para esses fazeres variados.
ML: Acompanhando seus passos pela internet, percebe-se que você é uma pessoa bastante ativa em várias plataformas . Qual é o peso que você credita à web para a divulgação dos trabalhos?
ESTRELA: A web é essencial e todos têm que se atualizar. O risco que se corre é ficar tão escravo dessas novidades que sobra menos tempo ainda para criar. Mas sou uma pesquisadora de web arte e produção-divulgação-distribuição, via internet. É um meio fascinante.
ML: Um recado para quem está começando a escrever poesia…
ESTRELA: Parece um recado batido, mas não é: ler de tudo e muito! Quanto mais diversificado, melhor. Temos que encontrar o que nos encanta e o que nos provoca. Li essa semana uma frase do Barthes que tem a ver com isso:
"Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz."(Roland Barthes, O prazer do texto)
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Sobre a entrevistada
Estrela Ruiz Leminski (Curitiba, 1981) é escritora e compositora brasileira, filha dos poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz. Formada em Música pela Faculdade de Artes do Paraná, concluiu sua especialização em Música Popular Brasileira, mestre em Música pela UFPR e em Musicologia pela Universidad de Valladolid (Espanha). Tem parcerias com Ceumar, Iara Rennó, Alzira Espíndola, Alice Ruiz, Makely Ka, Sandra Peres do grupo Palavra cantada, Fábio Tagliaferri, Renato Villaça, Rogéria Holtz, Flávio Henrique, o compositor madrilenho Leo Minax entre outros. Em 2004 lançou seu primeiro livro, Cupido, cuspido, escarrado, incluindo seus poemas feitos na infância e adolescência. Em 2009 participou da antologia "XXI poetas de hoje em dia(nte) e antologia dos poetas "Anos 2000" da editora Global. Em 2011 lançou o livro "Poesiaénão".
Participou de feiras literárias e publicações em revistas como "Germina", Poesia Sempre da Biblioteca Nacional, Revista de Autofagia de Minas Gerais, Et&cetera da Travessa dos Editores e "Sítio" em Portugal. Participou com poesias e montagens de imagem digital no CD-ROM "Informática na Arte" em Curitiba, editado em 1999.
Recebeu prêmios no Encontro Brasileiro de Haikai e Concurso Zempaku-Haikai e ministra oficinas sobre o tema. Quando viveu em Valladolid, Espanha, recebeu o "Premio Artístico de Fomento de la Igualdad de Genero" por um poema em castelhano. Publicou em 2006 a sua monografia "Contra-Indústria", sobre música independente brasileira, e o CD de composições "Música de Ruiz" em co-autoria com Téo Ruiz. Além disto eles fundaram em parceria o grupo musical Casca de Nós já extinto. Em 2007 foi homenageada no Psiu Poético em Montes Claros, Minas Gerais. Em 2011 lançou o Cd "São Sons" pelo selo Sete Sóis e distribuição da Tratore com participações de Kléber Albuquerque, André Abujamra, Carlos Careqa, Ná Ozzetti entre outros. A compositora se apresenta também interpretando composições de seu pai Paulo Leminski.
Livro mais recente
Poesia é não
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