segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Entrevista com Estrela Ruiz Leminski


A entrevistada deste mês inaugura — de forma muito emocionante para mim — nossa série de conversas mensais, como as que aconteciam no blog anterior.
Começo pelo fim: encontrei com Estrela no mês passado, no show que fez em São Paulo e que eu vi, não sem uma pitada de orgulho, mas com muita, muita alegria no coração, me fez voltar no tempo...Explico: é bastante estranho rever uma pessoa vinte anos depois, principalmente, quando sua última recordação dela é a de um rosto infantil e curioso, com sede de crescer mais rápido do que o tempo costuma prescrever...

A Estrela que revi não me surpreendeu, totalmente: igualzinha àquela de quem eu lembrava, mas em tamanho "Alice grande" do Lewis Carroll; parece que ela achou a garrafa com o rótulo "BEBA-ME", porque eu afirmo e atesto, que com apenas uma década de vida, ela era a mais curiosa, a mais crítica e a mais impaciente de todas as minhas alunas.
Continua assim e agora, fala sobre coisas como as que lerá na entrevista. Mas não pense que esta minha observação diminui todo o seu processo de crescimento profissional e de experiência! Muito pelo contrário: além de manter-se fiel ao que já sabia — mesmo que inconscientemente — ser sua trilha, Estrela amadureceu no sentido bom da coisa. Veja por si mesmo:
MADAME LIVRO: Não dá para começar sem a pergunta “standart”… Quando e como se deu o seu encontro com a poesia?
ESTRELA: Como os meu pais eram poetas eu não tenho como localizar isso no tempo, sei que quando era criança, brincava com jogos de palavras com meus pais e fiz meu primeiro haicai, aos 6 anos:
a casa
a lua o sol
nem sempre só
ML: Sua carreira musical complementa sua atividade poética, ao contrário, ou você vê as duas coisas de forma distinta?
ESTRELA: Elas se alimentam mutuamente, ouço muito que a minha música é poética e que meus poemas são sonoros.
ML: Conte um pouco sobre sua rotina de criação.
ESTRELA: Olha, gostaria de ter uma. Uma daquela mais regradas. É bem caótico na verdade; tem períodos em que produzo muito, tem períodos de seca absoluta, tem outros em que fico criando, mas só pequenas ideias e vou engavetando. Aí, me disciplino, coloco em ordem e termino o que falta.
ML: Você vem de uma família completamente mergulhada na arte, de várias formas. Como é o processo de separar-se disso e criar sua identidade artística, sua marca literária?
ESTRELA: O parodoxal nisso, é que só consegui minha própria linguagem quando assumi de vez a influência deles. Mas não fico pensando muito nisso, nem em fugir da obra deles, nem me aproximar. Eu saio fazendo.
ML: Como você enxerga o momento poético brasileiro?
ESTRELA: É um momento de diversidade louca, estamos revisitando todos os estilos, mas vejo como uma tendência poetas com múltiplos talentos, poeta-designer, poeta-cineasta, poeta-artista plástico e por aí vai. A internet dá possibilidade de vazão para esses fazeres variados.
ML: Acompanhando seus passos pela internet, percebe-se que você é uma pessoa bastante ativa em várias plataformas . Qual é o peso que você credita à web para a divulgação dos trabalhos?
ESTRELA: A web é essencial e todos têm que se atualizar. O risco que se corre é ficar tão escravo dessas novidades que sobra menos tempo ainda para criar. Mas sou uma pesquisadora de web arte e produção-divulgação-distribuição, via internet. É um meio fascinante.
ML: Um recado para quem está começando a escrever poesia…
ESTRELA: Parece um recado batido, mas não é: ler de tudo e muito! Quanto mais diversificado, melhor. Temos que encontrar o que nos encanta e o que nos provoca. Li essa semana uma frase do Barthes que tem a ver com isso:
"Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz."
(Roland Barthes, O prazer do texto)
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Sobre a entrevistada

Estrela Ruiz Leminski (Curitiba1981) é escritora e compositora brasileira, filha dos poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz. Formada em Música pela Faculdade de Artes do Paraná, concluiu sua especialização em Música Popular Brasileira, mestre em Música pela UFPR e em Musicologia pela Universidad de Valladolid (Espanha). Tem parcerias com CeumarIara RennóAlzira EspíndolaAlice RuizMakely KaSandra Peres do grupo Palavra cantadaFábio TagliaferriRenato VillaçaRogéria HoltzFlávio Henrique, o compositor madrilenho Leo Minax entre outros. Em 2004 lançou seu primeiro livro, Cupido, cuspido, escarrado, incluindo seus poemas feitos na infância e adolescência. Em 2009 participou da antologia "XXI poetas de hoje em dia(nte) e antologia dos poetas "Anos 2000" da editora Global. Em 2011 lançou o livro "Poesiaénão".
Participou de feiras literárias e publicações em revistas como "Germina", Poesia Sempre da Biblioteca NacionalRevista de Autofagia de Minas GeraisEt&cetera da Travessa dos Editores e "Sítio" em Portugal. Participou com poesias e montagens de imagem digital no CD-ROM "Informática na Arte" em Curitiba, editado em 1999.
Recebeu prêmios no Encontro Brasileiro de Haikai e Concurso Zempaku-Haikai e ministra oficinas sobre o tema. Quando viveu em Valladolid, Espanha, recebeu o "Premio Artístico de Fomento de la Igualdad de Genero" por um poema em castelhano. Publicou em 2006 a sua monografia "Contra-Indústria", sobre música independente brasileira, e o CD de composições "Música de Ruiz" em co-autoria com Téo Ruiz. Além disto eles fundaram em parceria o grupo musical Casca de Nós já extinto. Em 2007 foi homenageada no Psiu Poético em Montes ClarosMinas Gerais. Em 2011 lançou o Cd "São Sons" pelo selo Sete Sóis e distribuição da Tratore com participações de Kléber AlbuquerqueAndré AbujamraCarlos CareqaNá Ozzetti entre outros. A compositora se apresenta também interpretando composições de seu pai Paulo Leminski.

Livro mais recente

Poesia é não

Estrela Ruiz Leminski
Iluminuras
114 págs.




Onde, na web:

Facebook: https://www.facebook.com/estrela.leminski
Blog: http://leminiskata.blogspot.com
Youtube: http://www.youtube.com/user/ruizleminski

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