sábado, 6 de agosto de 2011

Em busca da palavra certa


As palavras são os ingredientes mais importantes do escritor. Representam a matéria-prima do qual são feitos todos os trabalhos. Não há como deixar de usá-las e, em nosso caso, devidamente registradas, grafadas, visíveis. São concretas.
No preparo de nossos “pratos” podemos também nos utilizar de algumas essências, assim como as experientes cozinheiras e empresas que preparam coisas que queremos comer, mas que não representam efetivamente o que estamos comendo.
Claro que você já viu um produto industrializado com “aroma artificial” de queijo, por exemplo. Não, não estamos comendo queijo; estamos pondo estômago adentro uma essência de queijo que só engana ao cérebro, inicialmente, e às papilas gustativas depois. Nosso íntimo sabe que aquilo não é, nem será queijo!
Ao construir seu texto, atente para os ingredientes e para as essências que está utilizando.
Uma palavra absolutamente real, acompanhada de uma essência pode fazer a diferença, tanto positiva, quanto negativamente.
Quem é seu personagem? Alguém assim, “doce”, “sério”, “ágil”, “feroz”?
E a palavra que escolheu para o descrever é aquela, e só aquela, que cabe no primeiro contato com o leitor?
Proponho um desafio. Tente substituir as palavras entre aspas por qualquer outra, nos espaços em branco das frases abaixo:
A derrota, para ele, era “amarga” como jiló.
A derrota para ele, era ( ) como jiló.
Seu beijo era “doce” como mel.
Seu beijo era ( ) como mel.
Aquele, era um dia “perfeito”! Nada poderia sair errado numa ocasião como aquela.
Aquele, era um dia( ) ! Nada poderia sair errado numa ocasião como aquela.
Quanto mais ele gritava, quanto mais “alto” falava, menos era notado pelo público.
Quanto mais ele gritava, quanto mais ( ) falava, menos era notado pelo público.
Não é impossível realizar as modificações; esses são exemplos para que você se dê conta que a escolha faz a diferença na tônica de cada frase, principalmente, quando se trata de adjetivos.
Procure não trancar seus personagens em definições das quais ele só se livrará “na marra”. Aponte caminhos para que o leitor vá descobrindo uma personalidade e não se conformando com um pacote pronto. Personagens “customizáveis”, ou seja, moldados ao gosto do leitor, são os mais carismáticos, normalmente.
Evite a armadilha de inseri-los na história como se fossem imutáveis!
Flexibilidade, visão multifacetada, diferentes abordagens de caráter e possibilidades diferenciadas de ação, darão a vida necessária aos seres que você concebeu.
Isso representa a essência, algo que não foi dito, mas antes, percebido, intuído, igualzinho quando conhecemos alguém.
Mesmo que a fama preceda o sujeito, é a nossa descoberta sobre a verdadeira personalidade do outro que nos motiva à convivência.

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